Descrição
Foram mais de 10 mil quilômetros rodados pelo litoral, do Chuí a Belém. Quando aceitaram o desafio de registrar os faróis brasileiros, os fotógrafos Cesar Barreto e Gabi Carrera não imaginavam a maratona que empreenderiam ao longo de três meses ininterruptos por céu, mar e terra.
Gozando de total liberdade para eleger suas linguagens visuais para o ensaio fotográfico, Cesar e Gabi exploraram infindáveis ângulos dessas construções carregadas de valor simbólico, guardiãs do litoral cujas luzes são fontes de segurança e conforto para navegadores.
Talvez essa liberdade tenha sido o gatilho que levou os fotógrafos a percorrem locais por vezes tão vastos e solitários como o Chuí, no extremo sul do Brasil, cujas areias eram varridas pelos ventos inclementes, agrestes como os penhascos rochosos da ponta do Cabo Frio, cujo farol demanda uma caminhada de tirar o fôlego de quem carrega câmeras, lentes e tripés, ou remotos como o Arquipélago de Abrolhos no litoral baiano.
No processo de exploração do objeto de sua viagem, os fotógrafos viram-se atravessando planícies e galgando montanhas para chegar aos faróis e neles descobrirem ambientes que alternavam amplitude e confinamento. Amplitude em função dos locais, pois os faróis precisam estar visíveis e sua luz deve alcançar paragens distantes, e confinamento pelas estreitas escadas que levavam aos prêmios maiores: as vistas e as fabulosas lentes, estas iluminando aquelas, apontando o caminho na escuridão para os que ousam enfrentar os perigos das viagens noturnas.
Mas nem somente de noite vivem os faróis, embora alcancem na penumbra a plenitude de sua função. À luz do dia, sua presença imponente atrai visitantes que os investigam com curiosidade e estranhamento, ocasiões que geraram imagens de grande poesia e força, como o farol do Albardão em Santa Vitória do Palmar (RS), ou o de Recife, intermitentemente oculto e revelado pelas ondas do mar.
Para complementar a trajetória dos fotógrafos, o curador Marcelo Campos, diretor do Museu de Arte do Rio (MAR), afiou a pena e redigiu um texto crítico inspirado que nos ajuda a refletir sobre os faróis nesse terceiro milênio, a pensar sobre sua existência e permanência num mundo cada vez mais tecnológico.
Com cerca de 100 fotos em grande formato, o livro convida o leitor a acompanhar o processo criativo dos fotógrafos, neste segundo volume da coleção “Década do Oceano”, realizada com apoio da Cátedra Unesco da Universidade de São Paulo. Nosso objetivo é destacar temas ligados aos estudos do oceano (sim, no singular, pois a percepção é que ele é único) ao longo da década que se inicia em 2021 e termina em 2030. E o simbolismo dos faróis certamente iluminará o caminho para o futuro dos nossos mares.
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